terça-feira, setembro 29, 2009

Brincando de Aprender

Nem só de atividades culturais sobrevive um final de semana! Estive na casa das minhas priminhas fofas dando o pontapé inicial no trabalho da disciplina de Linguagem e Educação. Elas estão em uma idade bastante interessante, onde a curiosidade e a imaginação se fazem presentes de maneira divertida, que nos faz rir. Em que momento da nossa aprendizagem esquecemos o quão divertido pode ser o aprender? Não sei todas as respostas, mas sempre me divirto muito com as histórias que elas têm para contar. Será por causa destas carinhas divertidas?




Fim-de-semana Cult

Dizem que a única maneira de alcançar a imortalidade é não morrer na memória dos homens. No meu fim de semana cultural, vi a obra Carmina Burana, de Carl Orff. As canções, as carminas, são anteriores a Orff. Sendo que as primeiras notícias que se tem a seu respeito tratem do ano de 740. Call Orff se imortalizou com Carmina Burana.
Saiba um pouco mais sobre a obra imortal Carmina Burana.
E você como será lembrado?

segunda-feira, setembro 28, 2009

Sexta-feira, dia vinte e vinco de setembro, fui ao teatro e gostaria de compartilhar a experiência pedagógica que tirei do fato. Ontem foi o início do projeto Fazendo Teatro – O TSP Agora é das crianças! Projeto esse que incentiva os pequenos a irem ao teatro, e que no período de 25 de setembro a 12 de novembro abre suas portas às crianças. Segundo Paulo Freire não devemos fazer distinção entre os diferentes tipos de cultura. Se, é produção humana, é cultura humana. É claro que a reflexão do pensador vai muito além, e não quero me alongar, porém sem desmerecer os diversos tipos de cultura: teatro é teatro. A magia do teatro é uma experiência ímpar. Diferente da ”telinha” onde tudo parece tão distante e irreal. Havia crianças por todos os lados, os olhinhos delas brilham, quer dizer... Nem só o delas! Vi muitos adultos com os olhos grudados no espetáculo! E o mais importante de tudo, no teatro a platéia interage, participa, faz parte do espetáculo. Na frente do computador, da televisão ou cinema, não há trocas. Falta o calor que só é possível nas relações humanas. Para aqueles que iam pela primeira vez certamente o momento ficará gravado na memória. A apresentação era de graça, alguns iam com seus pais, outros acompanhados de seus colegas e professores. Era um novo público criando o gosto pelo teatro. Saindo de suas casas, passeando, pegando sol, se exercitando. Aprendendo lições de cidadania, de paciência, de criatividade, de imaginação e que é possível dar formas aos sonhos. Infelizmente, até mesmo por desconhecimento, não pude levar meus alunos. Cultura é cultura, não há como classificá-la, a riqueza cultural está em usufruir de toda a sua diversidade. Neste dia se apresentaram o grupo Tholl e o Circo Girassol. Ambos os grupos unem as artes circenses e o teatro. Adoro em especial o grupo Tholl. Em 2007 na apresentação que fizeram na UFRGS, me apaixonei, até fiz uma postagem no blogger! Parece coisa de outro mundo.
Fui ao teatro e é esta lição que vou passar aos meus alunos. Teatro não é uma coisa elitista, sempre cara e inacessível. Já assisti muita peça teatral boa e de graça, já paguei para assistir peças ruins. Felizmente existem grupos que fazem espetáculos gratuitos ou baratos. É tudo uma questão de criar o gosto por esta forma de cultura. Criar o hábito de ir ao teatro. Nem precisa ser a maravilha que é o São Pedro, pode ser o teatro de rua mesmo. A importância de iniciativas como está é criar um novo público, e este qualificar cada vez mais a qualidade de nossos espetáculos.



sexta-feira, setembro 25, 2009

Falando em exemplo...

Há poucos dias escrevi que a beleza contagia, que bons exemplos devem ser seguidos. Comentei sobre a reforma que fizemos em minha sala de aula e sobre o vandalismo. Pouco tempo depois o caso da professora Denise vem a tona. O ocorrido foi anterior ao meu post no blog, mas só foi divulgado depois. Mais do que nunca me coloquei no lugar desta professora, não por defesa da classe, mas por me identificar com o trabalho que fizeram em sua escola, uma belezura. A professora Denise está na mídia. Apareceu no jornal Hoje, no jornal do almoço, Zero Hora, Diário Gaúcho, no Balanço Geral e no Jornal da Record. Está nos principais sites e no Youtube. O que ela fez? Deu o exemplo que tantos brasileiros gostariam de ter visto. No país do deixa pra lá, do jeitinho e do levar vantagem em tudo, a cobrança por responsabilidades encanta a todos. Não quero julgar a atitude da mãe do adolescente, mãe é mãe, mas parabenizo a professora que corajosamente teve uma atitude firme, e a sustentou. Na enquete que foi ao ar, 97% dos participantes aprovaram o comportamento da professora. A comunidade escolar deu seu total apoio a ela. E a própria SEC foi obrigada a abonar o comportamento da educadora. No vídeo é possível escutar a professora pedindo para seus alunos ajudarem a cuidar da escola e denunciar quem a suja-se. É preciso repetir estas palavras várias e várias vezes, quem sabe assim nossas escolas fiquem mais limpas e bonitas, quem sabe nossa cidade fique mais bela, quem sabe nosso estado de o exemplo e bem,,,, acho que está na hora de acordar. De qualquer forma, nunca é demais repetir: parabéns professora Denise por tentar fazer um mundo melhor!

Para entender o caso, veja o resume que retirei do site do Jornal Hoje:Na semana passada, a professora Denise Bandeira, que também é vice-diretora da escola, obrigou o aluno a retocar a parede. Um dos colegas gravou o menino trabalhando. No vídeo, a professora chama o garoto de bobo da corte. A escola, que é pública, foi pintada no começo do mês num mutirão de pais, alunos e professores.



terça-feira, setembro 22, 2009


É primavera… já dizia a canção de Tim Maia. Uma estação agradável, não só pelo seu clima como pela sua belezura. Já perceberam que a beleza é contagiante? Quem não gosta de dar aulas numa sala de aula limpinha, bem pintada e enfeitada? Pena que nem todos parecem compartilhar dessa idéia. Vejo muito vandalismo, desleixo e sujeira nas escolas em geral. Vejo ruas, prédios e lugares públicos pichados e sujos. Não sei qual a graça que vêem em “enfeiar” a cidade com rabiscos que ninguém sequer consegue entender. Já vi garatujas de crianças muito mais bonitas, até mesmo nas paredes de suas mães. Mas estarei errada em pensar que a beleza contagia? Com a ajuda dos pais e da comunidade reformei minha sala de aula que era muito feia. Pintamos, consertamos, decoramos. A sala ficou linda. Todos tiveram orgulho do resultado. Os alunos os principais responsáveis pelo acontecimento adoraram estudar numa sala nova. O exemplo foi seguido por outras turmas, outras salas foram arrumadas dando a mesma satisfação aos seus ocupantes. Boas atitudes viram exemplos. Já vi moradores podarem arvores e cortarem a grama e serem imediatamente imitados por seus vizinhos. Mudas de flores e folhagens vão passando de mão e mão multiplicando jardins e vasos. Está certo que nem tudo são flores, existem os espíritos de porcos espalhados nesta metrópole multifacetada. Porém, boas atitudes são bons exemplos, às vezes só precisamos de um incentivo para colorir a primavera. Plante uma flor, ou apenas regue uma, quem sabe seu vizinho não faça um lindo jardim.

Ao iniciar este post queria falar sobre a passagem de um livro: O Mestre Inesquecível, Análise da Inteligência de Cristo de AUGUSTO CURY, mas a chegada da primavera falou mais alto. Do livro retirei apenas uma frase:
“Os pais e professores deveriam ser vendedores de sonhos. Deveriam plantar as mais belas sementes no interior deles para fazê-los intelectualmente livres e emocionalmente brilhantes. Jesus Cristo tem muito a nos ensinar nesse sentido.”
Como vão suas flores?

segunda-feira, setembro 21, 2009

A Vaca e a Educadora, uma fábula prá lá de moderna


Há muito tempo, quando eu era pequena, olhando para o lado de fora, através da janela de minha sala de aula, vi uma vaca. Pastava calmamente no terreno ao lado da escola. A vaca ruminava pacientemente. Que coisa bonita! - pensei. E apesar dos meus poucos anos, já tinha visto muitas pessoas chamando algumas mulheres de vaca, sempre em tom ofensivo. Mas por quê? As vacas são tão bonitas! Mesmo assim não gostaria de ser chamada de vaca! Afinal provavelmente elas a chamem assim, porque são gordinhas e fofinhas. Minha professora era gordinha e eu queria ser professora. Queria mostrar aos meus alunos o mesmo mundo maravilhoso a que fui apresentada, naquela mesma sala de aula.
Hoje eu cresci, tornei-me uma professora realizando um sonho de infância, porém, outro dia vi na televisão uma professora sendo chamada de vaca. Não foi uma coisa bonita. E nem gordinha ela era. Pensando bem, do jeito que o governo trata os professores, eles se parecem muito com uma boiada. Todos pastando, pacificamente, nos campos de uma educação ideologicamente alinhada. E eles não têm medo de um “estouro”, pois as cercas da opressão e de controle social os mantêm em seu lugar até o momento do abate.
É muito triste tudo isso, nunca vi nem uma mãe de aluno chamando a governadora de vaca. E olha que eu continuo achando as vacas muito bonitinhas e úteis. Podem até me achar louca, com essa conversa mais maluca ainda, mas hoje em dia, não me ofenderia de ser chamada de vaca, afinal com o preço que anda a carne e o leite, as vacas estão sendo muito mais valorizadas do que as professoras.

domingo, setembro 20, 2009


Durante essa semana realizei atividades relacionadas à Revolução Farroupilha com meus alunos da 4a série. Como todos sabem o currículo desta série trabalha a história e a geografia do nosso Estado, ou seja, desde o inicio do ano letivo estamos trabalhando sobre esse assunto. Já havia constato que meus alunos não conhecem a história do nosso Estado e percebi que não conheciam nem mesmo o nosso hino. Então, trabalhamos o hino, seu significado, contextualização histórica, enfim. Para realizar esse trabalho pesquisei muito na internet a procura de imagens, textos, reportagens, sobre o Rio Grande do Sul, e para minha surpresa pouco encontrei. Percebi que é necessário urgentemente resgatar nossa história e vivenciá-la, trazendo mais significado a nossa cultura e tradição.
Em tempos onde programas de televisão mostram o quanto o povo brasileiro desconhece o hino nacional, não é surpresa que alunos de minha escola desconheçam o hino rio-grandense. Mas todos nós podemos fazer a nossa parte e contribuir para que os usos e costumes do povo gaúcho não fazem apenas parte de uma história de um povo já esquecido. O hino por si só nada representaria, mas a história representada através desta letra, nos traz o orgulho de ser parte dessa gente.

quinta-feira, setembro 10, 2009

Escola e Tradição


Numa conversa familiar veio à tona o ensino aplicado no Colégio Militar de Porto Alegre, entre outras coisas o pai de um aluno elogiou a excelência da escola. Mas afinal o que tem de especial o CMPA? Em seu currículo consta a passagem de nada mais nada menos que cinco presidentes da República (Vargas, Costa e Silva, Médici, Geisel e Castelo Branco). Entre as qualidades destacadas pelo pai, estão a questão da disciplina, o índice de aprovação no vestibular da UFRGS e o grau de exigência de dedicação nos estudos. A conversa e minha curiosidade estenderam-se sobre a origem desta tradição pedagógica. Os militares desde os tempos de Dom Pedro II, tiveram fortes ligações com o positivismo. Não é a toa que o lema da República seja “ORDEM E PROGRESSO”. O colégio militar, assim como a faculdade de Direito tiveram grande identificação com essa escola filosófica. Fico perguntando-me o quanto de Comte e Comênio, existe nesta tradição. Mas falar em positivismo nos dias atuais seria um retrocesso e um saudosismo não bem visto. Em sua atual proposta pedagógica, parecem aproximar-se mais de Piaget, com a valorização da pesquisa por parte do aluno e da construção do saber, através da sua autonomia e senso-crítico. Talvez a percepção do pai, sobre a disciplina rígida e da obtenção de resultados práticos (como o ingresso no vestibular), estejam distorcidos em relação à proposta pedagógica do CMPA. Porém, parece que a tradição é forte, eficiente e conservadora, desejável como deve ser a um bom colégio militar.

quinta-feira, setembro 03, 2009

Aprendizados

O balanço do semestre passado não foi totalmente negativo, apesar de minhas discordâncias. Do limão fiz uma limonada. É claro que devo grande parte desses méritos aos meus próprios alunos, afinal partiu deles a sugestão para a grande visita que fizemos a aldeia indígena dos Mbyá-Guarani. Partindo do conceito de Piaget, onde o aluno deve ser o construtor do seu aprendizado, ao expor sobre uma palestra que assisti sobre a presença indígena em nosso meio, meus alunos demonstraram interesse conhecê-los. Não queriam apenas ouvir falar em histórias de índios ou ver suas fotos estampadas em livros ou revistas, queriam conhecer a sua realidade e como vivem. No principio assustei-me com o esforço que seria necessário para realizar esse projeto, que mais me parecia um sonho e que eles ajudaram a concretizá-lo. Era necessário fazer contatos não somente com os indígenas, mas a questão de transporte, autorizações e o que foi mais bonito, uma pequena campanha de arrecadação de alimentos para retribuir a visita. O transporte foi o mais complicado, pois o aluguel de um ônibus seria muito caro, conseguimos o apoio da Brigada Militar, de Alvorada, com a ajuda do policial do PROERD, Soldado Figueiró, que gentilmente cederam o ônibus.
A escola autorizou a saída, os pais também, então os alunos começaram uma mobilização para a arrecadação de alimentos. A comunidade como um todo foi mobilizada para a alegria da garotada da escola e seus novos amigos da tribo indígena.
A visita foi exitosa, como diria Paulo Freire:
- A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria.
Alegria e boniteza tiveram de sobra, além do aprender e ensinar. Ganhamos todos, e foi muito mais gratificante para mim do que uma avaliação A com estrelinhas. E na simplicidade e sinceridade dos indígenas percebi que havemos de procurar resgatar o muito do que perdemos.

quarta-feira, setembro 02, 2009

Avaliações

No semestre anterior tive grandes vivências dentro e fora dos muros da escola. Nem todas as experiências foram agradáveis, mas com certeza todas contribuíram para o meu crescimento. As decepções também fazem parte da vida. Iniciei o semestre não concordando com a metodologia, os temas e o modo de sua abordagem na disciplina de Questões Étnico-Raciais. Minhas inquietações foram colocadas nos trabalhos, no blogger, nos e-mails, nas trocas interpessoais, enfim e em todos os meios que o PEAD nos oferece. Meus argumentos foram elaborados e expostos de maneira a levar ao diálogo. Como resultado final, ganhei um B. Não estou aqui contestando a nota, mas a maneira com que foi dada. Como achar que tal avaliação foi justa, quando a minha dedicação e busca pela construção do conhecimento foi marcada por uma produção escrita que, a meu ver, superou ao que foi pedido. E também a realização de um projeto, cujas atividades saíram do âmbito escola e universidade. Uma boa dosada relação entre teoria e prática. Mas como retorno, obtenho uma nota que destoa com o esforço empreendido. O que posso tirar como conclusão é que ao invés de não concordar com as idéias apresentadas, e o modo como são apresentadas, devo sorrir cinicamente, dizer amém e elogiar as minhas avaliadoras. É esta a atitude que vejo como sendo a mais salutar e mais “lucrativa”, afinal vivemos numa sociedade onde o que importa é o resultado final e tenho que concordar que um conceito A é sempre melhor que um conceito B.
Felizmente não penso desta forma, onde os fins justificam os meios. Maquiavel não é o meu mestre. Portanto me avaliem como quiserem! Saí ganhando sim, pois aprendi a melhorar meus argumentos, a embasá-los e o mais importante: transformar a teoria em uma realidade ao alcance de nossos alunos. Disciplinas como a de Filosofia, Psicologia e a do Seminário Integrador, suas professoras e a abordagem do conteúdo, contribuíram para enriquecer a minha prática pedagógica. Não é uma questão de ter ido ou não com a “cara” da disciplina e seus educadores, e sim, uma questão de avaliação do aluno em relação à disciplina. Talvez eu esteja sendo tão injusta quanto me sinto injustiçada, mas fica aqui meu desabafo e a lição aprendida: até quando é preferível dizer “amém” e garantir a nota?

Qual é a diferença?




Fiquei muito feliz com a escolha do texto “A educação Após Auschwitz”, de Theodor Adorno, que trabalhamos em Filosofia da Educação. Um texto escrito há várias décadas, mas com uma temática atual.
Estou adorando a proposta de trabalho desta disciplina, pois estamos sempre sendo desafiados a criar argumentos sobre os textos, filmes, enfim. O filme “O Clube do Imperador” fez-me lembrar a Grécia Antiga, e parece que essa é a idéia da professora Elaine Conte. Pois lá, na Grécia Antiga, se ensinava a arte da retórica aos cidadãos de Athenas. Era através da argumentação e da dialética, em praça pública, que se exercia a democracia. Se os sofistas se especializaram na retórica, o conhecimento evoluiu de Sócrates a Platão, a filosofia tomou forma e criou a Academia. Hoje, na academia moderna, aprendemos a filosofar. Nossos argumentos devem defender nossas idéias, não mais diante dos atenienses, mas perante o mundo. Não estamos mais limitados a um grupo, presos a uma sala de aula, a internet nos coloca diante do mundo. E temos aqui a responsabilidade de dizer: Auschwitz, nunca mais! Não se trata de concordar ou discordar dos argumentos de Adorno, e sim alertar para o perigo de um novo holocausto, de uma volta à barbárie.
Hoje, na Áustria é considerado crime o nazismo ou o neonazismo, assim como manifestar-se a favor desta ideologia. Não é um tolhimento da liberdade de expressão, e sim uma regra de conduta civilizada. A Áustria está dizendo não a barbárie. Adorno nos diz que a educação é a única arma que temos contra o que aconteceu em Auschwitz. Mas qual educação está sendo dada em nossas escolas?
Há pouco tempo, procurando uma saída para as brigas que envolviam meus alunos, resolvi trabalhar com o filme “Escritores da liberdade”. Neste filme tem uma cena interessante onde os alunos visitam um museu em homenagem as vítimas do holocausto. Neste museu, há passagens onde o visitante deve optar por qual caminho seguir: homens/mulheres, adultos/crianças e a triagem não para por aí: saudáveis/doentes, judeus/negros/ciganos. A mesma separação que os nazistas faziam nos campos de concentração, para separar os que iam morrer: na câmera de gás, trabalhando ou de fome. Os caminhos do museu levavam todos ao mesmo lugar, uma sala onde o visitante poderia saber um pouco mais sobre o destino daqueles que foram para os campos de concentração. Por fim as classificações dos nazistas levavam todos ao mesmo lugar: a morte. A única diferença era somente o quando e como. Auschwitz era a grande arma tecnológica e eficiente para a “solução final”. No filme, baseado numa história real, os alunos conhecem Miep Gies, a senhora que abrigou Anne Frank e sua família, durante vinte e cinco meses em um sótão. No filme, entre um aluno e essa senhora, ocorre o seguinte diálogo:
- Eu nunca tinha conhecido um herói, a senhora é a minha heroína.
- Oh, não! Não, não, meu jovem. Não sou uma heroína, não. Eu fiz o que tinha que fazer, porque era a coisa certa a fazer, foi só isso. Nós somos, todos, pessoas comuns, mas mesmo uma simples secretária ou uma dona de casa ou adolescente, podem, mesmo que com pequenas atitudes acender uma luzinha numa sala escura. Não é?
Anne Frank e sua irmã morreram no campo de concentração de Bergen-Belsen, em março de 1945. Aqueles que forem além do “Diário de Anne Frank”, vão ler o relato dos que sobreviveram ao mesmo campo de concentração, descrevendo Anne como uma menina simpática, com um lindo sorriso. Sorriso que se apagou com a morte de sua irmã, Margot. Após a morte dela, a menina que até então parecia tão cheia de vida (apesar das duras condições a que estava submetida), definhou e morreu no decorrer de poucos dias. Seus companheiros de infortúnio não estranharam a repentina mudança, para morrer nos campos bastava não lutar pela vida.
Adorno não chegou a conhecer o fim do Apartheid, o regime racista da África do Sul, mas foi contemporâneo de seu início, assim como do terror nazista. O autor nos fala do medo de um novo Auschwitz. Não é preciso muito para ver o mesmo medo no Gueto de Soweto, a mesma desumanização que foi vista no gueto de Varsóvia.
Como deixamos isso acontecer? Adorno nos mostra que a ideologia nazista era voltada para a valorização tecnológica, a massificação cultural, o não questionamento de seus líderes e onde o indivíduo deveria ser indiferente a dor e capaz de suportá-la, sendo assim o homem era “coisificado”. Assim fica mais fácil rotulá-lo, segregá-lo e após dizimá-lo, não havendo dor, nem remorso.
E nós, como educadores e membros ativos de uma sociedade democrática o que temos feito para que não surja um novo Auschwitz? Uma barbárie tão distante de nós, quanto o Apartheid de Adorno. A barbárie anda lado a lado com a civilização, e é preciso ser vigilante para que ela não retorne. Adorno nos propõe a solução pela educação. Utilizando a leitura de nossa professora Elaine Conte de seu discurso:
“E, então, ele pronuncia uma frase que gosto muito: "se não fosse pelo meu temor em ser interpretado equivocadamente como sentimental, eu diria que para haver formação cultural se requer amor; e o defeito certamente se refere à capacidade de amar" (Adorno, 1985, p. 64). Amor, para Adorno, é manter-se aberto, com todos os poros, todos os sentidos, todos os sentimentos, para o discurso alheio, livre e de maneira plural.”
Não sei se estou apta a este amor, penso que o discurso nazista deve ter o mesmo tratamento que é dado na Áustria. Se professores e acadêmicos se calarem diante da triagem de seus alunos; bem, talvez o medo de Adorno seja mais real do que imaginamos.
Esse texto foi excluído acidentalmente e republicado!