segunda-feira, maio 25, 2009

quarta-feira, maio 20, 2009

domingo, maio 17, 2009

Os Excluídos

Recentemente fiz um texto para participar do Fórum sobre Inclusão das crianças Portadoras de Necessidades Especiais, a partir desta e de outras discussões quero deixar aqui um pouco desta reflexão.

Inclusão? Estaremos incluindo ou excluindo? Numa escola onde cadeirantes não tem rampas de acesso, onde cegos não possuem material que possam ler, onde crianças com paralisia cerebral ficam apáticas disputando a atenção juntamente com outros tantos com problemas muitas vezes não diagnosticados e que em comum vão tendo repetências atrás de repetências. Como falar de inclusão sem as verdadeiras condições para receberem esses alunos? A lei ampara e prega a inclusão. Li a lei, li o fórum, li os textos e vi os vídeos. Olhei a realidade que me cerca e percebi que algo está errado. A Constituição Brasileira prega:

“salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; (...)”

Talvez vocês se perguntem o que tem haver uma coisa com outra. O princípio é o mesmo, na lei todas as preocupações estão presentes e atendidas, mas o que vemos é uma sociedade tentando se adaptar a dura realidade. Os PNES lutam por seus direitos, como o trabalhador que tem que escolher entre o pão e a educação. Filhos de excluídos lutam pela inclusão. Os excluídos por cor, gênero ou origem lutam pela igualdade social. Vivemos numa sociedade desigual. A lei para os ricos não é a mesma para os pobres. E isto não é apenas um dito popular, está presente na mídia e com exemplos recentes. Diz a canção Cidadão, de Zé Ramalho:
“Tá vendo aquele colégio moço?
Eu também trabalhei lá,
Lá eu quase me arrebento
Fiz a massa pus, cimento
Ajudei a rebocar.
Minha filha inocente
Vem pra mim toda contente:
- Pai vou me matricular.
Mas me diz um cidadão:
- Criança de pé no chão
Aqui não pode estudar.”
Pobre trabalhador, este não sabe que a Constituição lhe assegura um salário mínimo que lhe possibilita colocar sua filha numa boa escola pública, outro direito adquirido, O Estado é nosso grande pai. O Estado garante a inclusão, e se não está funcionando é por culpa de meia dúzia de professores revoltados que não querem se adaptar, estes educadores, que não tem sentimentos de solidariedade e não pensam em nossas crianças PNES. Será que é esse o problema da inclusão?
Todos têm os mesmos direitos, quer seja o filho do trabalhador, do desempregado, do viciado em crack, do índio, do branco, do negro, o cadeirante, o hiperativo, o cego, o surdo, o deficiente mental, o gay, o imigrante ou emigrante. Até mesmo os ricos têm direito a estudar na escola pública. A única diferença é que apesar da inclusão lhes ser garantida, sua permanência nem sempre será uma experiência “construtora” do saber.

Nossas discussões giram sempre em torno dos mesmos problemas, EDUCAÇÃO NÃO É PRIORIDADE, NEM NESTE, MUITO MENOS, NOS GOVERNOS ANTERIORES. Lendo o histórico das leis e políticas públicas que tratam da educação especial, vemos que muito pouco se avançou de fato nessa questão. E que toda e qualquer mudança só se deu a partir de muita pressão, principalmente pressão da opinião publica EXTERNA.
O Brasil é sem duvida um país de vanguarda, poderia citar vários exemplos, mas fico com um só: nós temos o sistema bancário mais avançado do mundo. Lição aprendida após anos lidando com uma inflação monstruosa. Seria interessante linkar todos as qualidades de nosso país, mas creio que esse não seja o momento, sei que para o Brasil realmente ser grande é preciso tratar da educação com seriedade e qualidade. A história da educação brasileira não me trás conforto, os problemas encontrados na educação especial é somente mais um deles. Estou cursando uma faculdade, onde algumas questões, que pensei que seriam melhor trabalhadas, são tratadas apenas com sentimentalismo. Entro num fórum, cujo principal objetivo é discutir as idéias e questões levantadas nos textos, e o que vejo são somente um desabafo de minhas colegas. Foram pouquíssimas as participações que discutiram os textos ou procuraram um embasamento teórico mais aprofundado. Se for pra desabafar não preciso freqüentar uma universidade, posso sair de minha escola e ficar conversando com minhas colegas de trabalho.
Vejo pessoas interessadas e preocupadas com a questão educacional, mas por outro lado fico triste em perceber que muitos acham que isso aqui é uma grande Disneylândia, ou uma Neverland, onde tudo é lindo e maravilhoso e que a inclusão é só uma questão de receber com amor e carinho nossas crianças.

quarta-feira, maio 06, 2009

Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade

EU TENHO UM SONHO - Discurso de Martin Luther King (28/08/1963)

"Eu estou contente em unir-me a vocês no dia que entrará para a história como a maior
demonstração pela liberdade na história de nossa nação.

Há cem anos atrás, um grande americano, na qual estamos sob sua simbólica sombra, assinou
a Proclamação de Emancipação. Esse importante decreto veio como um grande farol de
esperança para milhões de escravos negros que tinham murchados nas chamas da injustiça.
Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros.
Mas cem anos depois, o Negro ainda não é livre.
Cem anos depois, a vida do Negro ainda é tristemente inválida pelas algemas da segregação e
as cadeias de discriminação.
Cem anos depois, o Negro vive em uma ilha só de pobreza no meio de um vasto oceano de
prosperidade material.
Cem anos depois, o Negro ainda adoece nos cantos da sociedade americana e se encontram
exilados em sua própria terra. Assim, nós viemos aqui hoje para dramatizar sua vergonhosa
condição.

De certo modo, nós viemos à capital de nossa nação para trocar um cheque. Quando os
arquitetos de nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e a
Declaração da Independência, eles estavam assinando uma nota promissória para a qual todo
americano seria seu herdeiro. Esta nota era uma promessa que todos os homens, sim, os
homens negros, como também os homens brancos, teriam garantidos os direitos inalienáveis
de vida, liberdade e a busca da felicidade. Hoje é óbvio que aquela América não apresentou
esta nota promissória. Em vez de honrar esta obrigação sagrada, a América deu para o povo
negro um cheque sem fundos, um cheque que voltou marcado com "fundos insuficientes".

Mas nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos recusamos a
acreditar que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação. Assim nós viemos trocar
este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade e a
segurança da justiça.

Nós também viemos para recordar à América dessa cruel urgência. Este não é o momento
para descansar no luxo refrescante ou tomar o remédio tranqüilizante do gradualismo.
Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia.
Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação ao caminho iluminado pelo sol
da justiça racial.
Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a
pedra sólida da fraternidade. Agora é o tempo para fazer da justiça uma realidade para todos
os filhos de Deus.

Seria fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Este verão sufocante do
legítimo descontentamento dos Negros não passará até termos um renovador outono de
liberdade e igualdade. Este ano de 1963 não é um fim, mas um começo. Esses que esperam
que o Negro agora estará contente, terão um violento despertar se a nação votar aos negócios
de sempre.

Mas há algo que eu tenho que dizer ao meu povo que se dirige ao portal que conduz ao palácio
da justiça. No processo de conquistar nosso legítimo direito, nós não devemos ser culpados de
ações de injustiças. Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da
amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de dignidade e
disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em violência
física. Novamente e novamente nós temos que subir às majestosas alturas da reunião da força
física com a força de alma. Nossa nova e maravilhosa combatividade mostrou à comunidade
negra que não devemos ter uma desconfiança para com todas as pessoas brancas, para
muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui hoje, vieram
entender que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles vieram perceber que a
liberdade deles é ligada indissoluvelmente a nossa liberdade. Nós não podemos caminhar só.
E como nós caminhamos, nós temos que fazer a promessa que nós sempre marcharemos à
frente. Nós não podemos retroceder. Há esses que estão perguntando para os devotos dos
direitos civis, "Quando vocês estarão satisfeitos?"

Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da
brutalidade policial. Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados com a
fadiga da viagem, não poderem ter hospedagem nos motéis das estradas e os hotéis das
cidades. Nós não estaremos satisfeitos enquanto um Negro não puder votar no Mississipi e um
Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, nós não
estamos satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a retidão rolem abaixo
como águas de uma poderosa correnteza.

Eu não esqueci que alguns de você vieram até aqui após grandes testes e sofrimentos. Alguns
de você vieram recentemente de celas estreitas das prisões. Alguns de vocês vieram de áreas
onde sua busca pela liberdade lhe deixaram marcas pelas tempestades das perseguições e
pelos ventos de brutalidade policial. Você são o veteranos do sofrimento. Continuem
trabalhando com a fé que sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o Mississippi, voltem
para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para Louisiana,
voltem para as ruas sujas e guetos de nossas cidades do norte, sabendo que de alguma
maneira esta situação pode e será mudada. Não se deixe caiar no vale de desespero.

Eu digo a você hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e
amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho
americano.

Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de
sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens
são criados iguais.

Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes
de escravos e os filhos dos descendentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à
mesa da fraternidade.

Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira
com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um
oásis de liberdade e justiça.

Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação
onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um
sonho hoje!

Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador
que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama
meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas
brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje!

Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão
abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a
glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.

Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós
poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós
poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de
fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir
encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre. Este será
o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo
significado.

"Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto.
Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos,

De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!"

E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro.

E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire.

Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York.

Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania.

Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado.

Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia.

Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia.

Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee.

Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi.

Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade.

E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós
deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós
poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens
brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras
do velho espiritual negro:

"Livre afinal, livre afinal.

Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal."